Certo dia, em janeiro de 2005, iniciei
uma viagem entre Curitiba e Buenos Aires, seguindo de carro pelo litoral. Sim, viajar
milhares de quilômetros dirigindo o próprio carro tem o seu valor! Não seria a primeira fez que
faria isso (assim já fui do Rio de Janeiro à Natal) e, portanto, me considerava
experiente. Dos preparativos, o mais trabalhoso foi preparar o carro de acordo
com as exigências da época, relatadas nos sites das Embaixadas do Uruguai e da
Argentina. Orientavam coisas prá lá de inusitadas para nós brasileiros, como por exemplo,
manter na mala do carro um kit de primeiros socorros, um cabo de aço para fazer
reboque – em casos de falha do motor – e, pasmem, um lençol branco para casos
de acidentes com vítimas fatais. Sem comentários.
Seguro internacional devidamente
feito, organizei os pernoites de acordo com o interesse em conhecer determinado
local, horas de direção na estrada e condições de alojamento. Claro, ida e
volta. Parti de Curitiba com filho e sobrinho, sabendo que embarcaria os dois
para o Rio de Janeiro em Porto Alegre. E lá, no aeroporto, tínhamos encontro marcado com
amigos que seguiriam conosco até BUE. Assim foi feito.
1ª PARADA: GUARDA DO EMBAÚ (SC)
Localizada em Palhoça (50 km ao
sul de Florianópolis), na Serra do Tabuleiro, Guarda é considerada uma das 10 praias mais belas
do Brasil. Também achei. O grande charme é o Rio da Madre, que divide a Vila.
Ou seja, para chegar na praia tem que atravessar o rio caminhando,
nadando ou em um barco.
FOTO MB: NO CANTO ESQUERDO FICA A PEDRA DO URUBU. É DE LÁ QUE SE TEM A VISTA PRIVILEGIADA DA REGIÃO.
Almoçamos no restaurante da Bila, que serve minuta típica do local até às 11 da noite, ininterruptamente. Conhecemos a praia da Pinheira e nos hospedamos na Pousada Pura Vida, com piscina e café da manhã ótimo (natureba, é claro...). Na manhã seguinte, a proposta era seguir até Torres, no Rio Grande do Sul.
2ª PARADA: TORRES (RS)
Deixamos
Guarda no final da manhã e no início da tarde já estávamos subindo as Torres (3 grandes
paredões de pedra na areia da praia, de onde se tem uma bela vista do oceano). Diz-se que Torres é um dos núcleos mais antigos do Rio Grande do Sul. Quando o primeiro navegador português (Pedro Lopes de Souza) chegou por lá, era 1531.
A informação do hotel era de que bastava seguir a avenida até a “lomba” do
Banco do Brasil, que estaríamos na praia do centro (Torre Centro - Morro das Furnas). Bela praia. De lá vemos o
farol (Torre Norte). Seguimos para a “torre
sul” – o mais alto paredão. É alto mesmo, mas o visual é lindo de morrer.
FOTO MB: No
caminho para torre sul (junto da praia da Guarita) passamos pela Lagoa do Violão (nome dado em função do
seu formato) e por ruas de paralelepípedos que sobem e descem alcançamos a
praia. Primeira praia dos gaúchos e reduto colorado (como dizia uma placa na
entrada da cidade), é repleta de casas de veraneio. A surpresa foi ver essas
belas casas sem muros e com redes na varanda. Faltou pouco para eu me abancar
em uma delas.
FOTO MB: Depois de almoçar uma minuta (parece que depois de
Santa Catarina esse é o prato predileto da turma do sul), o café teve que ser
tomado lendo, na xícara, que o café é arma no combate às drogas (!?). Na manhã seguinte, antes de seguir para Porto Alegre, visitamos a terceira
praia, subindo em pedras, tirando fotos e
experimentando uma batida de cana com uma frutinha da região, que esqueci o nome, já que não gostei do sabor.
3ª PARADA: PORTO ALEGRE
Ao
chegarmos deparamos com a complicação de localizar o bairro de Navegantes, onde
ficava o hotel reservado. Resolvemos perguntar a direção certa para dois senhores que
conversavam próximos aos seus carros. Um deles, gentilmente, sugeriu que o
acompanhássemos, já que estava à caminho da mesma região. Algumas voltas e
curvas depois, estávamos na rua do Hotel
Porto Alegre. Estávamos próximo demais do porto. Paciência, era
apenas por uma noite e a oferta era pequena por conta do Fórum Social Mundial.
Chegamos a tempo de ver o pôr-do-sol no Guaíba. Nós e a
metade da população da cidade. O lugar fica igual a Lagoa Rodrigo de Freitas. A
diferença é que ao invés de água de coco todo mundo toma chimarrão ou tererê
(que é gelado). Visitamos a Usina do Gasômetro que, apesar do nome, era na
realidade uma usina termoelétrica. Lá, apenas o cinema e o café estavam
abertos ao público. O lugar estava sendo preparado para sediar o Fórum, motivo pelo qual já sabíamos que não teríamos hospedagem em POA na
volta de Montevideo.
Depois do Guaíba e do papinho com um “nativo” sobre o rio e
a cidade de Guaíba, resolvemos jantar. Havíamos saído do hotel com um mapa e graças a ele chegamos ao Guaíba, mas
quem disse que esse mesmo mapa nos fez chegar ao hotel de volta?
No meio tempo
em que nos perdemos, passamos pelo Largo dos Açorianos, onde se destaca o
Monumento aos Açorianos iluminado – caravela formada por pessoas, que
homenageia os 60 casais vindos dos Açores em 1752 e que deram origem à cidade
de Porto Alegre. Encontramos a Casa de Cultura Mário Quintana. Ali, no
antigo Hotel Majestic, jantamos. Na saída, contratamos um táxi e seguindo-o, aí sim,
retornamos ao hotel.
Foi em POA que tivemos o primeiro contato com a forma
diferente de dizer o preço das coisas. Vou explicar. Dez reais e trinta
centavos é dito “dez com trinta”; cinco reais e dez centavos, “cinco com dez”.
Essa era a forma de dizer valores em dinheiro por todo o restante da viagem. Na
manhã seguinte tentamos mais uma vez conhecer a cidade de carro. Aos domingos o programa é
caminhar no Parque da Redenção, também conhecido por Parque Farroupilha. Não
deu muito certo, pois o calor era insuportável mesmo. Paramos no primeiro shopping
que encontramos, o DC Navegantes - uma antiga fábrica construída pelo Sr.
Renner, em 1916, e onde hoje, no prédio das caldeiras, está instalada a
cervejaria Dado Bier - almoçamos e seguimos para o aeroporto. Os meninos embarcaram às
17:00 hs para o Rio. No aeroporto encontramos nossos amigos que passaram alguns dias em Pato Branco (PR) e com jeitinho conseguimos arrumar as 4 malas no carro e seguir para
Pelotas.
4ª PARADA: PELOTAS
Chegamos lá às nove da noite, com um
pouco de chuva e muito caminhão na estrada. Chegamos ao hotel errado, mas de mesmo nome
daquele que eu havia reservado. Ficamos por lá mesmo. Atravessamos a rua e
fomos jantar em um restaurante italiano. Para resumir, o melhor a ser feito era dormir para sair dali o mais rápido possível rumo a
Montevideo. Às 8:00 já estávamos na estrada que
nos levaria a Punta del Este e Montevideo. É claro que no caminho
havia algumas coisinhas para serem vistas ou feitas. A estrada era só reta e de
pista dupla. Foi assim que passamos pelo Banhado do Taim (área de preservação
ambiental quilométrica e muito simpática), com velocidade reduzida para desviar
dos animais que por ventura atravessariam a pista. De um lado o banhado e do
outro também, ou seja, quase duas horas de nada, em linha absolutamente reta.
FOTO MB: BANHADO DO TAIM EM FOTO TIRADA DO CARRO EM MOVIMENTO
Chegamos ao Chuí. Uma rua de 4
pistas separadas por um canteiro. Duas pistas é Brasil e duas pistas é Uruguai. Precisávamos
esticar as pernas, fazer câmbio e comer alguma coisa. Conversamos com um senhor
uruguaio sobre o tal cabo de aço para reboque que sabíamos ser necessário para
circular pela Argentina e pelo Uruguai (além do kit de primeiros socorros,
2 triângulos a Carta Verde, que já
tínhamos no carro). Ali
perto de Chuí é o balneário dos uruguaios – Barra do Chuí – no lado brasileiro.
Esse senhor estava de férias na praia e nos orientou onde almoçar (devíamos
fazer isso no lado brasileiro porque era mais barato), andar de faróis acessos
na estrada e esquecer essa história de cabo de aço. Assim fizemos.
FOTO MB TIRADA DO CARRO EM MOVIMENTO
O almoço foi desprezível
(adjetivo mais ameno), mas o necessário para prosseguir na estrada. Poucos
metros depois passamos pela fronteira, migração brasileira, a uruguaia e aduana.
Não é que me pediram a carta verde! Alguns quilômetros na Ruta 9 (reta com nada de
um lado e nada de outro e muita gente pedindo carona) paramos na Fortaleza de
Santa Teresa, ubicado en el departamento de Rocha. Mas a história em terras
uruguaias é objeto para outra postagem.
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